Fim de obras olímpicas provoca êxodo de cerca de dez mil trabalhadores do Rio de Janeiro.
A maioria já foi embora, seja para a terra natal ou, se tiver sorte, para qualquer cidade do país que tenha uma chance de emprego. Para alguns, porém, resta a missão de arrematar os últimos detalhes, deixando tudo pronto. O encarregado de elétrica Ulisses de Carvalho, de 32 anos, é um deles. Ele saiu de Belo Horizonte, em Minas Gerais, para o Rio, em outubro de 2013, a fim de trabalhar na construção da linha 4 do metrô, que ligará Ipanema, na Zona Sul, à Barra da Tijuca, na Zona Oeste da capital.
— Trabalho há 16 anos com a parte elétrica, e nunca tinha trabalhado em obras desse porte, só em projetos — contou.
Para trás, ficaram os pais, os irmãos e os sobrinhos. As ligações diárias amenizavam a saudade da família. A religião e os amigos do canteiro de obras lhe deram o suporte necessário quando o pai e a mãe tiveram câncer nesse período de trabalho no Rio: ele, no intestino, já curado. Ela, nos ossos, ainda em tratamento.
— Há momentos em que dá vontade de sair correndo pela estrada, achando que a casa dos seus pais está logo ali. Mas não está. São 400 quilômetros de distância — disse.
Da obra, ficarão a experiência e o aprimoramento profissional — no ano passado, ele se formou como engenheiro elétrico — além dos amigos, que são fundamentais.
Ulisses nem concluiu o trabalho no metrô e já tem três propostas de emprego: em Belo Horizonte, em Volta Redonda e até na China:
— É uma rede de amigos. Ainda não decidi para onde vou. Mas nem pretendo tirar um tempo de descanso. Se for preciso, vou emendar.
Ele faz bem. Fontes do setor afirmam que, com o fim das grandes obras, encontrar uma vaga, hoje, é muito mais difícil do que há dois, três anos. Para quem tem uma oportunidade, a melhor opção é agarrá-la.

DEPOIMENTOS:
“Eu sou de Cabreúva, no interior de São Paulo. Foi a primeira vez que vim para o Rio e vou ficar até acabar a obra. Acho que será em novembro. Depois, vou voltar para minha cidade. Meus pais, minha avó, ficou todo mundo lá. Mas estou sempre ligando, colocando créditos no celular para falar com eles. Está sendo tudo muito diferente para mim, porque eu morava numa cidade pequena. E acaba sendo uma curtição também, porque não conhecia o Rio e estou perto da praia”.
Ivonei de Oliveira - Encarregado de elétrica no Consórcio Linha 4 Sul, 41 anos:
“Eu sou de Piratuba, em Santa Catarina. Trabalhava na área elétrica, mas como autônomo. Vim como eletricista e, depois de seis meses, fui promovido a encarregado, que é líder de equipe. Foi um prazer fazer parte da obra, fazer amizades. É algo que levarei para o resto da vida, como pessoa e como profissional. Meu plano, agora, é partir para outra obra. A perspectiva é de crescimento sempre, apesar de o Brasil estar em crise. Mas, se não tiver outro jeito, vou voltar às minhas atividades de autônomo”.
Total de rescisões disparou
— Estamos fazendo uma média de cem homologações diárias no sindicato. Antes, eram de 20 a 30 por dia. No ano passado, tivemos nove mil demissões. Este ano, já estamos com 7.500, somente até ontem — detalhou Nilson Duarte, presidente do Sitraicp-RJ, que estima que 20% dos 30 mil trabalhadores da construção pesada, das obras olímpicas, vieram de fora do Rio.

Severino: ‘A rotina do nordestino é correr atrás de dinheiro’ Foto: Roberto Moreyra / Extra
Vaguiner Moura, coordenador do departamento de Segurança do Trabalho do Sintraconst-Rio, conta que a entidade tem feito de 150 a 180 homologações por dia, contra uma média de 40 a 60 em anos anteriores. Ele destaca, porém, que o cenário não é de queda, mas de “retorno ao nível normal”, e destaca a qualificação profissional que as obras proporcionaram:
— Muitos entraram na construção como serventes e saíram profissionais, como pedreiros, carpinteiros e armadores. Ficou um pouco mais fácil os trabalhadores buscarem recolocações no mercado.
A opinião do alagoano Severino dos Santos, de 48 anos, ajudante de calceteiro na obra do VLT, é a mesma:
— Eu já trabalhei em outras obras, mas nunca numa de grande porte. Agora, estou aqui. A rotina do nordestino é correr atrás de dinheiro.
OS NÚMEROS
- Linha 4 do metrô: Desde 2010, quando as obras começaram, foram gerados cerca de 30 mil empregos. No momento de pico, havia 9.717 profissionais, 40% deles vindos de outros estados. Os cinco estados que registraram o maior número de colaboradores foram Rio de Janeiro, Maranhão, Paraíba, Bahia e Ceará. Hoje, a Linha 4 conta com cerca de 3.200 trabalhadores e será inaugurada no dia 30 de julho.
- Transolímpica: O corredor expresso que liga Deodoro à Barra da Tijuca, na Zona Oeste, chegou a ter 5.450 operários no período de pico da obra, segundo a Secretaria municipal de Obras.
- VLT: No pico das obras do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), em abril deste ano, havia 2.973 trabalhadores. Hoje, são 2.673. A Concessionária VLT Carioca não tem dados de quantos funcionários são de fora do Rio.
- Porto Maravilha: Ao longo das obras do Porto Maravilha foram gerados cerca de 11200 empregos diretos. 25% desses trabalhadores vieram de outros Estados para atuarem nas obras, em sua maioria, do Piauí, Ceará e Maranhão. No pico de obra, o número de trabalhadores chegou a 5.900, dos quais 90% foram desmobilizados de acordo com o cronograma de atividades.
- Outros canteiros: Segundo a Empresa Olímpica Municipal, os números de trabalhadores nos picos das seguintes obras foram: 2.259 no Complexo Esportivo de Deodoro, 3.500 no Parque Olímpico, 800 no Centro de Tênis, 500 no Velódromo, 550 no Estádio Aquático, 800 na Arena do Futuro e 132 no Parque Aquático Maria Lenk.
FONTE: Jornal EXTRA
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